O Lento Alento, por Renato Essenfelder

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O Lento Alento, por Renato Essenfelder
O Lento Alento, por Renato Essenfelder
Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio

Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio

A piada certeira do Bobo da Corte me veio à mente, às vésperas do meu aniversário; espero ter ficado sábio o suficiente para ser ridículo

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Renato Essenfelder
jun 15, 2025
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O Lento Alento, por Renato Essenfelder
O Lento Alento, por Renato Essenfelder
Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio
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Evoé,

caras leitoras, caros leitores.

Nas últimas semanas, compartilhei com os assinantes duas investigações filosóficas sobre temas, bem, amargos. A primeira falava sobre o anti-intelectualismo; a segunda, sobre o seu principal combustível: o ressentimento.


O anti-intelectualismo e o triunfo do ressentimento

O anti-intelectualismo e o triunfo do ressentimento

Renato Essenfelder
·
Jun 1
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Do ressentimento e da covardia moral

Do ressentimento e da covardia moral

Renato Essenfelder
·
Jun 8
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Para esta semana (bombas, genocídio, desesperança), estava querendo puxar uma prosa mais leve.

Deixemos o ressentimento de lado para falar daquilo que o precede: o sentimento. Aquilo que nasce além do bem e do mal, que simplesmente é e dá seu jeito de se manifestar.

O sentimento de ser, envelhecer, desejar.

Eis que a ocasião é adequada. Enquanto essa vontade minava à superfície, me dei conta de que em um mês farei 45 aninhos.

Será que aprendi algo nesse tempo todo? O que de belo apreendi?

Acomode-se na cadeira, pegue o seu cafezinho. O Alento hoje é (ainda mais) pessoal.

Num vagão de metrô nalgum lugar…

Entrei na segunda metade da vida, aquela que, dizem, “passa tão rápido”. Não é curioso que a infância, quando constantemente nos sentimos entediados e ansiosos pelo amadurecimento, passe tão devagar, na nossa cabeça? Aliás, não passa nunca. A vida adulta, entretanto, corre e escorre antes que possamos dizer como é bom estar aqui.

Espero, ao menos, ter escapado da maldição do velho Lear. Na peça de Shakespeare, já encenada e adaptada em centenas de versões por aí, o rei reparte a sua herança entre as filhas, deixando de fora justamente a mais sincera delas, Cordelia, que não se derrete em elogios vazios ao papai.

Depois de ser passado para trás por quem fingia grande afeição a ele, o rei e seu bobo da corte travam o seguinte diálogo.

O rei que teme a loucura e o Louco, em montagem de 2016 da Royal Shakespeare Company, na Inglaterra

BOBO - …A razão por que sete estrelas não são mais de sete é muito interessante.

LEAR - Não é por não serem oito?

BOBO - Justamente! Darias um excelente bobo.
…

BOBO - Se tu fosses o meu bobo, tio, eu te daria uma sova por teres ficado velho antes do tempo.

LEAR - Como assim?

BOBO - Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio.

E, em outro momento:

LEAR: Estás me chamando de bobo, Bobo?

BOBO: Você abriu mão de todos os outros títulos; esse é de nascença.

Dizem que interpretar o Bobo é um dos maiores desafios imagináveis para atores de teatro modernos. A dificuldade começa pelo fato de a própria função de bobo da corte já não existir mais, e suas nuances são difíceis de assimilar, hoje em dia. Além disso o bobo não tem nome, fala em enigmas, é debochado e vulgar, mas também carrega uma verdade cortante, que só o humor permite expressar.

Os bobos da corte contemporâneos deram lugar a outra coisa, essa sim desprezível: viraram, no máximo, puxa-sacos acovardados. É uma pena. O que será de nós, sujeitos que envelhecem, sem um Bobo que nos salve da loucura?


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