O Erro de Descartes (ou Como a Neurociência Baixou a Bola da Racionalidade)
Contrariando a divisão cartesiana entre corpo e mente, António Damásio defende que a razão precisa da emoção para funcionar corretamente, e que o sentir precede o pensar
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E boa leitura :)
Phineas Gage era o que as histórias chamam de “um homem comum”. Trabalhador ferroviário e chefe de uma equipe de demolição, cuidava das explosões que preparavam o caminho para os trilhos de ferro no interior dos Estados Unidos no século 19.
Era disciplinado, competente e, segundo dizem, muito querido pelos colegas. Um sujeito tranquilo, confiável, de boas maneiras.
Até o dia do acidente que mudou sua vida.
A tragédia se deu em 1848. Gage estava em mais um dia de trabalho, supervisionando a colocação de explosivos em uma rocha. Ele usava um bastão de ferro feito sob medida para compactar pólvora dentro de perfurações na pedra. O procedimento era tão simples quanto perigoso: colocava-se a pólvora num buraco na rocha, então um assistente despejava areia por cima da pólvora e finalmente Gage compactava todo o material o mais fundo possível, usando sua barra de ferro. Feito o serviço, preparava-se um pavio para explodir a rocha minada.
Naquele dia, contudo, no fatídico momento da compactação, Gage se distraiu por um átimo. Ouviu alguém atrás de si chamar por seu nome. Virou a cabeça para trás, por cima do ombro direito, e, absorto, com a memória muscular de quem já fizera aquilo centenas de vezes, encaixou a barra de ferro na fenda aos seus pés e empurrou-a para baixo com força.
Acontece que o assistente ainda não havia despejado areia na perfuração.
Gage, sem perceber, macerou diretamente a pólvora, dentro da rocha.
O atrito do bastão produziu uma mísera faísca — mais do que suficiente para desencadear a tragédia.
Vou economizar na descrição gráfica da cena. Basta dizer que uma barra de ferro de seis quilos, com um metro de largura, perfurou o rosto de Gage. Abriu caminho pela bochecha esquerda, atravessou seu cérebro e saiu pelo topo do crânio, caindo a mais de 30 metros de distância de seu corpo. Fim da história, certo? Ninguém poderia sobreviver àquilo.
Errado.
Phineas Gage não morreu.
Ao contrário. Não só sobreviveu como permaneceu plenamente consciente. Minutos depois da explosão, estava conversando sem dificuldade. Contou calmamente aos colegas o que havia acontecido. Caminhou — repito, caminhou — sozinho até um carro de boi que o levou à cidade mais próxima, onde um médico, incrédulo, examinou seu crânio dilacerado no consultório improvisado de um bar.
Aparentemente, Phineas Gage estava bem.
Edward Williams, assistente do médico que atendeu Gage, deixou um registro por escrito daquele momento insólito:
O sr. Gage, durante o tempo em que estive a examinar o ferimento, ia descrevendo aos circunstantes o modo como tinha sido ferido; falava de uma forma tão racional e mostrava-se tão disposto a responder às perguntas que lhe faziam, que lhe coloquei diretamente as minhas questões, em vez de as dirigir aos homens que o acompanhavam na altura do acidente e que agora nos rodeavam.
O sr. Gage relatou-me então algumas das circunstâncias, tal como a partir daí sempre as descreveu; e posso afirmar com segurança que nem nessa altura, nem em qualquer outra ocasião subsequente, exceto numa, o deixei de considerar perfeitamente racional. A única ocasião à qual me refiro ocorreu cerca de quinze dias após o acidente, quando insistiu em me chamar John Kirwin; ainda assim, respondia corretamente a todas as minhas perguntas.
Em apenas dois meses, seu restabelecimento físico foi total. Nem os membros nem a língua estavam paralisados. Seus sentidos seguiam perfeitos, exceto pela visão do olho esquerdo, perdida para sempre. Caminhava firmemente, utilizava as mãos com destreza e não tinha nenhuma dificuldade assinalável na fala ou na linguagem.
Ele pareceria perfeitamente normal, se você não o conhecesse antes do acidente.
Os amigos, a família, mal o reconheciam. Phineas Gage não era mais o mesmo.
Analisando o caso Gage, António Damásio, um dos mais respeitados neurocientistas da atualidade, afirma no livro O Erro de Descartes que é espantosa a recuperação total do paciente, sua capacidade de “andar, falar e permanecer coerente”.
Mas isso não é o mais surpreendente dessa história. Para o pesquisador:
Esses resultados espantosos passam para segundo plano quando são comparados com a extraordinária modificação que a personalidade de Gage estava prestes a sofrer. Sua disposição, seus gostos e aversões, seus sonhos e aspirações, tudo isso se irá modificar.
O corpo de Gage estava vivo e são, mas tinha um novo espírito a animá-lo.
Sim, parecia que havia baixado um novo espírito no jovem corpo de Gage. Se antes o ferroviário era um homem educado e responsável, a partir do acidente tornara-se impulsivo, agressivo e incapaz de planejar qualquer coisa.
Passou a xingar descontroladamente, a tomar decisões inconsequentes. Perdendo os filtros sociais, dizia qualquer coisa que lhe viesse à cabeça, sem medir consequências, a ponto de os médicos sugerirem que as damas da época não passassem muito tempo com ele, para não serem bombardeadas por obscenidades.
Tornou-se inconstante, incapaz de segurar um emprego, de seguir regras, de viver em sociedade.
Phineas Gage deixou de ser Phineas Gage.
O que novamente traz a difícil questão: o que faz alguém ser o que é?
Escrevi sobre isso há algumas semanas, no texto Os dilemas do “eu sou”.
Baseado nos abundantes relatos do médico de Gage à época, Damásio descreve como a personalidade do paciente mudara radicalmente.
Mostrava-se agora caprichoso, irreverente, usando por vezes a mais obscena das linguagens, o que não era anteriormente seu costume, manifestando pouca deferência para com os colegas, impaciente relativamente a restrições ou conselhos quando eles entravam em conflito com seus desejos, por vezes determinadamente obstinado, outras ainda caprichoso e vacilante, fazendo muitos planos para ações futuras que tão facilmente eram concebidos como abandonados... Sendo uma criança nas suas manifestações e capacidades intelectuais, possui as paixões animais de um homem maduro.
Sua linguagem obscena era de tal forma degradante que as senhoras eram aconselhadas a não permanecer durante muito tempo na sua presença, para que ele não ferisse suas sensibilidades. As mais severas repreensões vindas do próprio dr. Harlow falharam na tentativa de fazer com que o nosso sobrevivente voltasse a ter um bom comportamento.
Aquele que um dia fora um profissional respeitado se tornara um andarilho errante, uma sombra de si mesmo. Ele sobreviveu à tragédia, mas perdeu algo essencial.
Gage morreu em 1861, depois de uma vida errante e cheia de dificuldades. No dia 21 de maio, teve uma série de convulsões incessantes e contínuas que o fizeram perder a consciência. Nunca mais recobrou os sentidos.
Tinha 38 anos, e não houve qualquer referência à sua morte nos jornais de São Francisco, onde morava. Aquele era ano de guerra civil nos Estados Unidos, e, diante do cenário de completa convulsão (desta vez, social), o médico que acompanhara Gage no início só ficou sabendo de sua morte cinco anos depois.
Ficou profundamente aborrecido por não ter sido feita autópsia no corpo de seu paciente mais ilustre. Não se deu por vencido, contudo, e solicitou permissão à família para exumar o corpo e recuperar o crânio perfurado, juntamente com o ferro de calcar, que havia sido enterrado com ele.
Ainda hoje, o crânio e a barra de ferro estão em exibição no Medical Museum da Harvard Medical School, em Boston.
Bem, mas o que isso tem a ver com a gente?
Talvez você tenha sido criado em um ambiente extremamente racionalista, como a maioria de nós. Talvez tenha crescido ouvindo conselhos sobre a importância de manter a cabeça fria, de usar sempre a razão, de não se deixar abalar por emoções, de não deixar que a emoção interferisse na razão, de não “pensar” nem com fígado nem com coração, mas com a cabeça.
— Mantenha a cabeça no lugar, garota!
— Seja racional, rapaz!
O princípio por trás disso é tão simples quanto popular: razão e emoção são entidades separadas. Há toda uma vasta, vastíssima tradição filosófica sobre isso, que remete aos gregos antigos e chega (mais ou menos firme) até hoje.
Todos conhecemos a célebre máxima de Descartes: Penso, logo existo. Para ele, a consciência do pensamento era a única certeza indubitável e a essência do ser. Descartes defendia que a mente e o corpo eram substâncias separadas, sendo a primeira imaterial e independente da segunda.
Mas o caso de Phineas Gage, cujo estudo mais aprofundado só foi possível graças à intervenção da neurocientista Hanna Damásio, esposa de António, ajudou a mudar essa perspectiva. Inventora de uma tecnologia de modelagem virtual e visualização do cérebro, Hanna simulou a tragédia que acometeu Gage no século 19 e forneceu novos elementos para entender e correlacionar a perda de certas partes do cérebro com a mudança de personalidade do ilustre acidentado.
Abriu-se uma nova porta para perceber algo crucial: que a razão está profundamente conectada à emoção, inclusive do ponto de vista biológico.
Sublinho: a mais moderna neurociência aponta para a hipótese de que a razão tem uma base biológica, ainda que seja também influenciada e moldada por fatores externos, como nossas experiências e o ambiente que nos cerca.
Por isso Damásio insiste que a divisão cartesiana foi um erro. A mente não pode ser compreendida sem o corpo, pois razão, emoções e consciência emergem de processos fisiológicos e neurológicos interligados.
Damásio chegou à essa conclusão depois de atender um paciente que, sob vários aspectos, parecia ser “o novo Phineas Gage”.
Imagine um homem brilhante, educado, gentil. Chamemo-lo de Elliot. Aos trinta anos de idade, ele era um profissional competente, pai de família, respeitado por todos.
Até que algo aconteceu.
Elliot desenvolveu um tumor benigno no cérebro, do tamanho de uma pequena laranja, que precisou ser removido cirurgicamente.
A operação foi muito bem-sucedida. Ele voltou para casa sem sequelas motoras, sem perda de memória, sem alterações em sua capacidade intelectual. Sua inteligência estava intacta.
Mas algo nele havia se perdido. Antes meticuloso e decidido, Elliot tornou-se incapaz de tomar decisões simples. Passava horas escolhendo onde almoçar, ponderando cuidadosamente os prós e contras de cada alternativa possível. Sem conseguir priorizar tarefas, acumulava compromissos sem finalizar nada. Seu casamento desmoronou. Perdeu o emprego. A vida desandou.
Incapaz de se sustentar, vivia com a ajuda da família. Em certo momento, decidiu pedir pensão por invalidez — mas a Segurança Social negou o pedido. Elliot, afinal, era absolutamente normal: podia conversar sobre qualquer assunto e em testes cognitivos saía-se no mínimo dentro da média. Muitas vezes, demonstrava inteligência acima do normal.
Damásio foi chamado para avaliar o caso. Intrigado, descobriu que o tumor de Elliot o afetara exatamente na mesma região do cérebro que Gage perdera um século antes. No primeiro contato com Elliot, o experiente neurocientista não notou nada estranho.
— Elliot não só era coerente e inteligente como tinha um conhecimento perfeito do que se passava no mundo a sua volta. Datas, nomes, pormenores dos noticiários, tinha tudo na ponta da língua. Discutia assuntos políticos com o humor que eles frequentemente merecem, e parecia compreender a situação da economia. Seu conhecimento sobre o mundo dos negócios, no qual tinha trabalhado, permanecia intato. Tinham-me dito que as capacidades profissionais se mantinham inalteradas, o que parecia plausível. Possuía uma memória impecável da história de sua vida
À medida que foi conversando, analisando, testando e interagindo das mais diversas formas com Elliot, Damásio foi sentindo que algo não estava certo, mesmo que tudo parecesse perfeitamente normal.
Por exemplo, no trabalho, Elliot agia com demasiada perfeição, o que o impedia de concluir qualquer tarefa. Se tivesse de fazer algo simples, como classificar uma pilha de documentos por ordem cronológica, ele se perderia em pormenores. Dedicaria horas a ler cada documento de forma incrivelmente minuciosa, mesmo que o conteúdo não fizesse parte da tarefa. Isso se ele não se distraísse com outra coisa a meio do caminho e resolvesse dedicar todas as suas energias a ela.
Imagine que você tem que simplesmente atravessar a rua para ir à padaria, mas no caminho resolve parar e contar todas as pedras da calçada.
De modo geral, segundo conta Damásio em O Erro de Descartes, Elliot era sim capaz de executar as mais diversas ações tão bem quanto antes do tumor.
Mas ele não era capaz de executar a ação apropriada no momento apropriado.
A tragédia desse homem, que em todo o resto era saudável e inteligente, resultava do fato de, apesar de não ser nem estúpido nem ignorante, agir frequentemente como se fosse. Seu mecanismo de tomada de decisões estava tão defeituoso que ele já não podia funcionar efetivamente como ser social. Mesmo quando posto em confronto com os resultados desastrosos de suas decisões, não aprendia com os erros. Parecia estar para além de qualquer possibilidade de salvação.
Elliot, como Phineas Gage, era incapaz de decidir coisas simples e de funcionar como um ser humano independente.
Depois de meses aplicando dezenas de testes psicológicos e cognitivos que nada revelavam de anormal, Damásio um dia se afastou do problema, tirou férias, e no retorno teve um insight. Pensou que talvez estivesse prestando atenção demais à inteligência do seu paciente, mas quase nenhuma atenção às emoções dele.
Planejou outro teste, no qual apresentava ao doente alguns estímulos visuais emocionalmente carregados — por exemplo, imagens de edifícios ruindo em terremotos, casas incendiando, pessoas feridas.

Na mesma hora, o próprio Elliot deu a chave que faltava para entender seu caso.
— Depois de uma das muitas sessões em que viu essas imagens, ele me disse, sem qualquer equívoco, que seus sentimentos tinham se alterado desde a doença. Conseguia aperceber-se de que os tópicos que antes lhe suscitavam emoções fortes já não lhe provocavam nenhuma reação, positiva ou negativa, escreve Damásio.
Ou seja, as imagens perturbadoras não provocavam resposta emocional. Seu corpo não exibia os sinais fisiológicos típicos do medo ou da ansiedade; nada de suor, nada de batimentos cardíacos acelerados, nada de angústia perceptível.
Foi aí que Damásio percebeu: a incapacidade de Elliot não era um problema de raciocínio lógico, mas de falta de emoção.
Elliot raciocinava logicamente sobre todas as coisas, mas não as sentia.
Em outras palavras, a frieza do raciocínio de Elliot o impedia de dar diferentes valores a diferentes opções, tornando a sua paisagem de tomada de decisões desesperadamente plana.
Imagine estar em um restaurante, faminto, mas ainda assim não conseguir decidir entre os pratos do cardápio, pois nenhum se destaca, nada chama realmente a atenção. Você consegue pensar em termos de nutrientes, ingredientes, modos de preparo, preço, consegue puxar pela memória as vezes que comeu cada um deles (mas sem saber se a experiência foi prazerosa ou não).
Fica tudo igual, tão igual que é impossível decidir.
Esse era o drama de Elliot.
No fim de uma sessão, depois de ter produzido uma quantidade abundante de opções de ação para um problema, todas elas válidas e exequíveis, Elliot sorriu, aparentemente satisfeito com sua imaginação fértil, mas acrescentou:
— E, depois de tudo isso, ainda não saberia o que fazer!
A partir desse e de outros casos, Damásio formulou uma teoria que subverte um dos pilares do pensamento ocidental. Segundo ele, a razão precisa da emoção para funcionar. O mito cartesiano de que “penso, logo existo” simplifica excessivamente a complexidade do ser humano.
A redução das emoções pode constituir uma fonte importante de comportamento irracional, observa Damásio.
O que faltava a Elliot não era inteligência, mas a capacidade de atribuir valor às opções que ele identificava. Sua mente funcionava, mas estava desconectada das emoções que nos orientam ao que mais importa.
Sem emoção, não há valor.
Sem valor, não há escolha.
A emoção, muitas vezes tida como inimiga da razão, é justamente o que a torna possível.
Isso não quer dizer que as emoções não possam, também, atrapalhar nossa tomada de decisão. Isso pode acontecer — aliás, acontece com frequência, no dia a dia. Uma decisão pode ser significativamente pior se for afetada por uma paixão violenta, por um excesso de emoções.
Todos temos alguma experiência desse tipo, na vida, nem que ela seja tão trivial quanto fazer compras no supermercado enquanto está morrendo de fome.
Chegamos em casa e, surpresos, olhamos para os sacos transbordando de snacks baratos e nada nutritivos.
— Como esses seis pacotes de biscoito vieram parar aqui?
Mente e corpo, razão e emoção, são profundamente interligados, como uma simbiose que não pode ser desfeita sem comprometer o funcionamento do ser humano. Durante séculos, a tradição filosófica, desde Platão, passando por Descartes, nos ensinou a ver a mente e o corpo como entidades separadas. A razão seria a essência do ser humano, uma substância distinta e pura, enquanto o corpo, coitado, apenas uma máquina material, cujos parafusos afrouxam com o tempo.
Besteira. O corpo, com seus incontáveis processos fisiológicos, está o tempo todo em contato com a mente, enviando sinais de alerta, prazer, dor, desejo, medo. Esses sinais trazem informações cruciais para que tomemos decisões, compreendamos o que é importante e o que não é.
Sem essas mensagens, a mente, por mais brilhantemente lógica que seja, se perde em um mar de opções sem valor, sem propósito. É a emoção que dá sentido à razão, assim como o corpo dá sentido à mente.
Inúmeros filósofos precederam Damásio na proposta de uma visão integrada da mente e do corpo. Freud, Nietzsche e Spinoza, só para ficar em exemplos do meu gosto pessoal, cada um à sua maneira, já sabiam o que o neurocientista viria a confirmar, ou melhor, a estabelecer como uma forte hipótese, com a ajuda da moderna tecnologia de mapeamento do cérebro: que não é possível separar mente e corpo, e que não somos nem nunca seremos entidades puramente racionais — aliás, ainda bem.
Freud, com a teorização do inconsciente, mostrou que muito do que nos move não é acessível à razão consciente, enquanto Nietzsche, com sua ênfase na Vontade de Potência, lembra que a racionalidade é apenas uma das forças que impulsionam o ser humano.
Spinoza, um dos autores favoritos de Damásio, via a razão e as emoções não como opostas, mas como partes de uma mesma engrenagem, na base da qual estava o Conatus, o impulso que faz com que todos os seres busquem a sua preservação e autodeterminação.
Para Spinoza, a razão é fundamental não para negar as emoções, mas para entender como podemos direcioná-las de maneira a promover o nosso bem-estar e a harmonia com o mundo ao nosso redor. Ele acreditava que a razão, ao compreender as causas das nossas emoções, poderia ajudar a transformar sentimentos destrutivos em ações mais construtivas, levando a uma vida mais virtuosa e em sintonia com a natureza.
Damásio resgata e fundamenta principalmente Spinoza, trazendo um respiro de vida a essa antiga disputa filosófica com os chamados metafísicos.
Afinal, o que sentimos, por mais irracional ou fugaz que pareça, é parte da nossa inteligência mais profunda: aquela que nos orienta na complexidade da vida e nos mantém vivos.
Segundo Damásio, primeiro a gente é, depois a gente sente, e só num terceiro estágio a gente sabe. Tem sido assim por 4 bilhões de anos, desde o surgimento dos primeiros organismos vivos.
Portanto, caro leitor, cara leitora, respire fundo.
A aventura da vida só está completa quando a gente é, sente e pensa.
Por isso pense bem, por favor. Mas também pense com carinho.
Se você leu até aqui, meu especial obrigado!
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