Viva!
Talvez você tenha pescado a referência do título, que vem de um dos meus livros favoritos de um dos meus autores favoritos: Grande Sertão: Veredas, do João Guimarães Rosa. O trecho completo diz assim:
“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
Variadas edições do clássico publicado originalmente em 1956
É uma ideia bonita demais. Em vez de apelar ao fogo que arde sem se ver, ao sol, à flor, à lua, ao divino e ao maravilhoso metafísico, Rosa traz a questão para uma dimensão bem terrena: a nossa. Aquela onde nem sempre existe amor, infelizmente, mas frequentemente trânsito no caminho de casa, acidente na estrada, alagamento, boletos.
O amor é um descanso na loucura do mundo, é suspensão do caos e da falta de sentido. Disso tudo.
É uma pausa, é um alento.
Noutro dia volto a falar desse grande livro e de como minha esposa decidiu, dia desses, sem mais nem menos, que era hora de encarar o Sertão. Quando ela me disse isso, fiquei com aquela inveja boa que temos quando alguém querido está prestes a ter uma experiência incrível, e talvez conheça a mesma euforia que a gente conheceu, no passado, e que não pode mais repetir.
Ou pode? Ou melhor, será que essa nova experiência, que é a experiência de retorno à velha experiência, já tendo vivido um tanto, lido um tanto, chorado e amado um tanto, não pode ficar ainda mais rica, ainda mais interessante?
Decidi, eu também, fazer o teste.
O Lento Alento é sobre isso, afinal. É um descanso na loucura, como tão bem definiu o Guimarães Rosa, porque é, também, uma forma de amor. Perdoe se pareço piegas, não é essa a ideia (e estou ciente dos riscos). Penso neste O Lento Alento como uma afirmação do nosso amor pela vida e pelos viveres possíveis, por nós mesmos e pelo mundo. É isso que esta comunidade pretende ser.
Em O Lento Alento, eu te convido a fazer comigo uma pausa para um longo e revigorante café. Vamos falar de arte e da vida. Vamos fazer uma pausa para um reencontro, um retorno ao que dá sentido e interessância à nossa existência.
Guimarães Rosa rodeado de vaqueiros durante expedição de cerca de 240 km pelo sertão mineiro, em 1952. Quando lhe perguntavam se ele era o “Doutor Rosa”, ele logo corrigia: “Doutor é no Rio de Janeiro, aqui sou o vaqueiro Rosa”. Ele fazia perguntas para os vaqueiros o tempo todo, avidamente, a ponto de o pessoal da região desenvolver um sistema: se não soubessem a resposta, inventavam. A viagem inspirou diversos escritos de Rosa, além de sua obra-prima, e está bem relatada no livro-reportagem O Rumo do Rosa na Rota de Zito, de Tanael Cesar Cotrim (ed. Pangeia) . Foto Eugênio Silva/O Cruzeiro
Por que agora, por que aqui?
Já é clichê falar na velocidade dos tempos modernos, que atropela qualquer possibilidade de reflexão – ao mesmo tempo que vamos terceirizando a disciplina da ponderação para as máquinas. Mas clichês podem conter suas verdades.
O problema (são problemas demais) é que com isso perdemos, além da própria capacidade de reflexão, um tanto de beleza, um tanto de tesão. Fica tudo assim, atropelado, meramente sobrevivente.
Correr para a escola, correr para o trabalho, correr para correr – e morrer?
Ah, não. Resistamos, vivamos! Ainda que só por um café, este café de lento alento, vamos observar, sentir e interpretar a gente e o mundo com alguma calma. Após 15 anos ensinando a arte e a técnica da narração e da narrativa, aprendi que uma história bem contada pode ser a porta de entrada para uma vida mais interessante.
Aqui, vamos degustar o mundo. Vamos abrir espaço para discutir literatura, cinema, filosofia, psicanálise, cultura digital e, claro, a vida. Nem sempre encontramos respostas, mas acredite: as boas perguntas também transformam.
Afinal, o que é O Lento Alento?
O Lento Alento não é apenas um boletim semanal, é uma comunidade de leitores que buscam uma vida mais rica e interessante. Cada artigo, crônica, crítica ou ensaio será um descanso na loucura, uma oportunidade de mergulhar em reflexões sobre o que nos toca e nos move. Aqui, vamos caminhar juntos pelos labirintos das narrativas e dos dilemas culturais que fazem o nosso tempo.
Sem pressa, com profundidade e interessância, prometo trazer, para os seus fins de semana:
- Crônicas literárias, com insights exclusivos sobre o processo criativo, reflexões metanarrativas e as histórias por trás das histórias.
- Análises honestas e desafetadas, sem patrocínio, amizade ou rabo preso, de livros, filmes, músicas, exposições, sempre com uma lente curiosa e crítica.
- Conversas sobre filosofia e psicanálise e provocações sobre como essas disciplinas podem nos ajudar a entender o que se passa dentro e fora de nós.
Tudo isso com o olhar de quem acredita que ser interessante é uma habilidade que se constrói — e que histórias bem contadas são os melhores tijolos dessa construção.
Uma degustação de ideias — no seu tempo
Assim como o bom café, essas reflexões são feitas para serem saboreadas devagar. E melhor ainda: elas chegam diretamente na sua caixa de entrada, sem pressão e sem ruído. É a pausa que você merece, ao custo simbólico de um café por mês.
Então, se você está cansado de viver na superfície, de correr sem chegar a lugar algum, faça uma pausa. Vem comigo nessa jornada, vamos juntos.
Um abraço,
Renato Essenfelder
Proposta genial !!
Te ler é um acalento, amigo! Feliz de embarcar nessa jornada cheia de clichês e interessâncias. ❤️